Friday 2 May 2014

Em Pânico!

Olá pessoal, vi essa matéria originalmente publicada na Revista Mente Cérebro (Edição de Outubro 2013 - Matéria por Fernanda Teixeira Ribeiro) e decidi compartilhar com vocês.

Plantas tóxicas, fome, conflitos tribais, predadores – nossos ancestrais sobreviveram a muitos riscos. Em um ambiente hostil, em que raramente se ultrapassava os 30 anos de idade, era preciso estar atento a muitos perigos para se proteger. Ao custo de sofrimento físico, perda de entes queridos e toda série de dificuldades aprendemos, por exemplo, a evitar alimentos de mau aspecto, andar por ruas desertas, desconfiar de desconhecidos. “A psique humana evoluiu em face do medo. Temos uma espécie de software – de milhões de anos, um pouco desatualizado talvez – que traz informações necessárias para nos manter a salvo”, explica o psicólogo Robert Leahy, professor da Faculdade Médica Weill-Cornell, autor de Livre da Ansiedade (Artmed, 2011). 

Adaptativo, o medo se inicia quando reconhecemos uma ameaça e se dissipa logo que ela cessa. A ansiedade, por sua vez, está associada a antecipação. Ela é natural e nos prepara para enfrentar uma situação que nos desafia ou preocupa, como provas, entrevistas, resultados de exames médicos. Nesses momentos, é normal sentir o coração acelerar, a transpiração aumentar e mesmo insônia. Quando o problema é resolvido ela vai embora. “Já a ansiedade patológica não desaparece. Ela nos imobiliza e, para não ter de enfrentá-la, fugimos das situações. É crônica e vem sempre acompanhada de sintomas como palpitação, sudorese, tontura, sensação de estranhamento, diarreia”, diz o psiquiatra Antônio Nardi, diretor do Laboratório de Pânico e Respiração (LABPR) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É considerado transtorno psíquico quando tem duração, intensidade e frequência desproporcionais.

Em alguns casos a ansiedade pode se manifestar em crise abrupta e intensa – um ataque de pânico. Uma onda de sensações desagradáveis, como impressão de asfixia, dor no peito, dormência dos membros, receio de enlouquecer ou mesmo de morrer, que se inicia e atinge seu pico em poucos minutos. As crises podem ocorrer de forma isolada ou ter relação com algum transtorno de ansiedade. Ataques recorrentes, acompanhados pela preocupação constante de sofrer outra crise – e as possíveis consequências, muitas vezes imaginárias, que ela pode ter, como um infarto ou morte –, caracterizam, segundo o Manual diagnóstico e estatístico de doenças mentais (DSM), um estado extremo de ansiedade: o transtorno de pânico (TP), também conhecido como síndrome do pânico.


Por causa da semelhança com os sintomas de problemas cardiorrespiratórios, muitas pessoas com ataque de pânico vão parar no pronto-socorro ou passam
por consultórios médicos de diferentes especialidades antes de procurar um psicólogo ou psiquiatra ou ser encaminhadas. É três vezes mais comum em mulheres e surge com mais frequência no início da vida adulta. Em alguns casos, é acompanhado de agorafobia – o receio de ter uma crise faz a pessoa começar a evitar lugares e situações em que, acredita, é mais difícil escapar ou receber ajuda. Assim, tarefas cotidianas, como usar transporte público rumo ao trabalho, fazer compras no supermercado ou sair de casa sem companhia, tornam-se cada vez mais difíceis. “É comum que parentes não compreendam o problema e acreditem que ‘é coisa da cabeça’ de quem sofre e adaptem a rotina familiar para que a pessoa não fique ou não saia só, o que pode parecer uma boa ajuda, mas que acaba colaborando para a manutenção do transtorno”, diz a psicóloga Marcele Regine de Carvalho, pesquisadora do LABPR.

O transtorno de pânico não tem causa específica. O mais provável é que seja resultado da interação entre herança biológica e fatores psíquicos e ambientais, como o estresse. Ter um parente de primeiro grau com o distúrbio é o principal fator de risco. Estudos com famílias, publicados nos anos 80 no Archives of General Psychiatry, demonstraram que pessoas com pai, mãe ou filho com transtorno de pânico têm oito vezes mais chances de apresentar os mesmos sintomas.
Pessoas com predisposição genética são mais suscetíveis a ter o distúrbio desencadeado por fatores externos, como algumas drogas. “São frequentes crises que se seguem ao abuso de álcool ou uso de substâncias recreativas, entre elas a maconha, e também de psicoestimulantes, como anfetaminas e café em excesso”, diz o psiquiatra Márcio Bernik, coordenador do Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Medicamentos anorexígenos (com finalidade de emagrecer), corticoides e broncodilatadores também podem induzir ataques.

PÍLULAS E CRENÇAS
 
O tratamento com medicamentos e psicoterapia cognitivo-comportamental (PCC) controla os sintomas em mais de 85% dos pacientes sem agorafobia – resultados que se mantêm mesmo depois de interrompê-lo. “Os medicamentos mais indicados são os benzodiazepínicos (ansiolíticos) e antidepressivos. Muitos pacientes utilizam fármacos dos dois grupos, para que sejam ministradas doses menores de cada, o que reduz efeitos colaterais. A medicação bloqueia os ataques de pânico, abrindo caminho para enfrentar situações temidas”, diz Nardi.

A PCC é uma abordagem breve, que ajuda o paciente a perceber padrões de pensamento que alimentam sua ansiedade e a aprender algumas estratégias para lidar com ela no dia a dia. “A maneira como se avalia uma situação influencia emoções, comportamentos e reações fisiológicas. Interpretações exageradamente negativas ou catastróficas, causam respostas físicas desproporcionais à realidade. Reestruturar pensamentos distorcidos é uma forma de alterar emoções e atitudes”, diz Marcele.


Para isso, é essencial compreender a ansiedade como um mecanismo de defesa: as reações que desencadeia, embora assustem, não são necessariamente perigosas e podem ser controladas. A hiperventilação – decorrente das inspirações rápidas e profundas em uma crise de pânico, que pode desencadear a parte “automática” de um ataque –, por exemplo, pode ser amenizada com respiração diafragmática. De forma semelhante, exercícios de relaxamento podem reduzir a excitação neuromuscular e a hiperatividade cognitiva.

Estudos com testes respiratórios – como hiperventilação voluntária e inalação de dióxido de carbono (CO2) para induzir sintomas de pânico em laboratório –, aliás, demonstram que pacientes com o distúrbio são excessivamente sensíveis a essas alterações. Os núcleos da base (estruturas interconectadas com o córtex cerebral, o tálamo e o tronco encefálico, onde são sintetizados neurotransmissores), por exemplo, têm papel tanto na regulação da respiração quanto no processamento de emoções primitivas, como o medo. “Existe uma relação entre equilíbrio de neurotransmissores, pH do sangue e sistema respiratório. Pacientes que hiperventilam antes de um ataque de pânico podem aprender a bloquear a crise respirando adequadamente”, diz Nardi.


PROVOCANDO SINTOMAS
 
Fugir ou evitar situações que causam desconforto pode, em um primeiro momento, trazer alívio. Por outro lado, porém, mantém intactas as crenças que sustentam o medo. Uma segunda etapa da PCC, depois da reestruturação cognitiva e treino para lidar com os sintomas, é a terapia de exposição. Com orientação do psicólogo, o paciente faz exercícios que simulam sintomas de ansiedade e também entra em contato com estímulos temidos. “O objetivo é que ele consiga experimentar sintomas e habituar-se a eles, para que qualquer mudança corporal percebida não dispare necessariamente um ataque de pânico”, diz Marcele.

Correr no mesmo lugar, respirar por um canudo fino, prender a respiração e hiperventilar são exemplos de exercícios que simulam sensações físicas de uma crise. Já a exposição a situações que despertam a ansiedade é gradual e repetitiva, de modo a adaptar o paciente ao estímulo, extinguir a resposta de medo e fazê-lo perceber que suas previsões excessivamente negativas raramente se confirmam. É comum que o psicólogo cognitivo faça também simulações imaginárias ou virtuais para adaptar o paciente aos poucos. “Grupos de apoio também são importantes. Ajudam a perceber que existem pessoas com problemas semelhantes e, principalmente, que muitas melhoram. Para os parentes de quem tem o transtorno é uma oportunidade para esclarecer dúvidas e preconceitos, além de aprender estratégias de enfrentamento", diz Bernik.

“O medo não é o sistema de navegação confiável que supomos. Ele se alimenta de crenças irracionais, de ‘certezas’ que, na realidade, apenas tornam nosso comportamento menos adequado, obscurecem nossas expectativas, afetam drasticamente a qualidade vida”, diz Leahy. Será que todas as nossas preocupações são importantes a ponto de ser preciso dar ouvidos a todas elas para nos proteger? A ansiedade nos permite antecipar problemas e soluções possíveis para evitar a dor e preservar nosso bem-estar – apesar de parecer o contrário. Nas palavras do pensador Sêneca, “há mais coisas que nos assustam do que coisas que efetivamente nos fazem mal; afligimo-nos mais pelas aparências do que pelos fatos”.


ESTRESSE SOB CONTROLE

Congestionamentos, demandas do trabalho, cuidar de si próprio e de outros. É possível enumerar centenas de situações, apenas as mais corriqueiras, que deflagram estresse e ansiedade. São parte do cotidiano da maioria das pessoas. A diferença é a maneira como cada um lida com elas. Algumas medidas que ajudam a gerenciar melhor essas emoções:

1. Exame dos pensamentos
 
O psicólogo Robert Epstein, doutor pela Universidade Harvard, investigou como mais de 3 mil pessoas lidavam com as pressões do dia a dia. Ele descobriu que os que buscavam controlar pensamentos negativos – tentando enxergar a situação de maneira mais condizente com a realidade ou de perspectiva mais positiva – apresentavam menos sintomas de distúrbios psíquicos. Segundo o pesquisador, pessoas com transtornos de ansiedade tendem a antecipar problemas, superestimar sua importância e, mais ainda, prever desfechos trágicos. “Reinterpretar os eventos da vida faz com que eles deixem de nos incomodar tanto. A psicoterapia pode ser crucial nesse processo”, diz.

2. Relaxamento
 
Não faltam estudos que atestam os benefícios do ioga, de exercícios respiratórios e técnicas de meditação. Meditar regularmente reduz os níveis de cortisol, hormônio relacionado ao estresse, e fortalece o sistema imunológico. Atividades de lazer também são importantes para amenizar a rotina e tirar o foco das preocupações.

3. Atividade física
 
Mexer o corpo melhora o humor. Atividade física regular estimula a produção de neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, associadas às sensações de bem-estar e de motivação. Além disso, exercícios ao ar livre ou mesmo na academia de ginástica são boa oportunidade para sair de casa e interagir socialmente. As relações sociais são importantes para a manutenção do humor e da autoestima.

4. Alimentação
 
Dieta rica em nutrientes mantém a saúde do corpo – e também da mente. O endocrinologista sueco Fredik Nystrom, da Universidade de Linkoping, estudou o humor de 18 voluntários que, durante um mês, comeram apenas em lanchonetes – cardápio, claro, baseado em frituras e açúcar – e não fizeram exercícios físicos. Conclusão: o aumento da irritabilidade e do humor deprimido foi proporcional ao “estrago” na alimentação. Por outro lado, alimentos ricos em ácidos graxos ômega 3, como peixes, abóbora, semente de linhaça, soja, castanhas e, em menor quantidade, espinafre, couve e pepino, estão associados à melhora do bem-estar.

Vamos ao médico?

Pessoas com problemas de ansiedade geralmente são divididas em dois grupops: Um grupo que está convencido de que eles são ou estão ficando loucos e o outro que pensa que tem algum problema grave de saúde que vai levar a morte.

O medo de enlouquecer é comum entre pessoas que sofrem de ansiedade. No entanto, esse medo é bobagem porque ansiedade não causa insanidade.

É compreensível que uma pessoa ansiosa desenvolva esse tipo de idéia. O stress provoca uma grande dose de preocupação e introspecção. Mas te garanto que este medo terrível que você tem de ficar louco, não vai se tornar realidade. Esse pensamento é gerado porque você está sob muito stress.


Mas o segundo grupo que acha que pode ter uma doença, por favor, vá ao médico. Você pode estar certo. Mas calma, não surte! Embora existam problemas médicos que de fato causam sintomas de ansiedade, não significa que seja uma doença fatal e incurável.


Por exemplo... já ouviu falar em problemas de tireóide? 


A maioria das pessoas ansiosas pensam que tem algum problema de saúde grave. Você ouve pessoas ansiosas falando sobre ataques cardíacos, câncer no cérebro, até mesmo a esclerose múltipla é citada como uma possível causa para seus sintomas. Mas há outros problemas de saúde, muito menos dramáticos, que talvez estejam te fazendo ter esses sintomas.

A causa médica mais provável que causam sintomas de ansiedade é o hipertireoidismo. 

O hipertiroidismo é uma doença causada pelo funcionamento exagerado da tiróide (uma glândula localizada no pescoço). Com isso, a glândula produz mais hormônios tiroidianos do que o normal – a tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3), o que faz com que todos os processos regulados por essas substâncias fiquem acelerados, como o próprio metabolismo, o crescimento celular e as funções cardíacas, gastrointestinais e neurológicas, entre outros.

Nem todas as pessoas com ansiedade crônica tem um problema de tireóide, mas se você ainda não foi ao médico fazer um check-up, é recomendado que você faça. Eu sei que você deve estar com medo de ir ao médico. Eu entendo isso. Você deve estar com mais medo ainda de ver o resultado dos seus exames. Eu entendo isso também. 

Mas é importante lembrar que um simples exame de sangue irá te dizer se o seu problema de ansiedade é realmente apenas uma questão hormonal ou se é coisa da sua cabeça. É melhor saber o que realmente está acontecendo com você do que ficar com essa dúvida que só vai aumentar seu stress.


É exatamente pelo fato de você ter transtorno de ansiedade que você precisa dar o primeiro passo para sua cura: fazer um check-up. Uma vez que você foi ao médico e fez todos os exames que deveria e o médico te diz com todas as letras que você é saudável, aí sim você vai tirar esse peso do seu ombro e poder começar a lutar contra seus problemas reais.


Se você já fez todos os exames e nada de anormal foi encontrado, então essa é a hora de aceitar que você é realmente uma pessoa saudável e começar desenvolver um plano de ação para lidar com suas crises. 


E é exatamente isso que tento fazer nesse blog, te ajudar a entender que você é saudável e a cura para suas crises já está dentro de você, mesmo que você não acredite nisso.